domingo, 27 de dezembro de 2015

A morte desfaz o conceito.

Mãe, às vezes a dúvida não é metódica e é insistente.
Como é que chegámos aqui?
Como é que te caiu o cabelo?
Como é que não cessou a paranóia de, no escuro do medo, garantir que te via respirar?
Como é que não estava lá quando paraste?
Como?
Como é que a pele só se te agarrava aos ossos?
Como é que te esqueceste dos números?
Como é que não te esqueceste de como se fumava?
Por que é que eu não te pedi que sobrevivesses?
Por que é que só te fui vendo, tal qual observador estrangeiro?
Como é que não ficaste e envelheceste como devia ser?
Como é que foste da grandeza de não me agrilhoares quando errei?
Como é que foste da grandeza de me deixares
 ser tão livre?
Como é que deixaste de andar?
Quando é que tudo passou a ser só dor?
Como é que tu aguentaste?
Quando é que deixaste de comer?
Quando é que deixaste de ser dona de ti?
Quando é que não valia mais a pena?
Quando foi que?
O ser humano acaba quando acaba a sua possibilidade de amar?
O corpo, a carne viva. Vivemos para o corpo. E o decrépito nada tem.
Morreste-me, mãe, e eu não sei o que fazer com isso.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Melancolia

Aqui não se dorme por excesso de consciência.




[O luto é da felicidade infantil de quem tem todo o tempo do mundo.]