segunda-feira, 25 de março de 2013

das memórias

"At the temple there is a poem called loss carved into the stone. It has three words, but the poet has scratched them out. You cannot read loss, only feel it. "

quarta-feira, 20 de março de 2013

Um cigarro...

És a droga e eu sou o tabaco.
Ajo do alto da minha passividade: Limpo-te o suor da testa quando dormimos juntos,
                                                        faço cravar as tuas [extraordinárias] mãos no meu
                                                        corpo e, mesmo assim, não me beijas.
 Pedi-te um beijinho e mandaste-me embora.
[Afinal] nunca cravaste nada, rompeste e rasgaste.
A decadência que nos - me - levou
desconcerta-me no escuro e
                   já não sou
Nada.
Mas se me deres um beijinho, enrolo-me em ti e aos teus "lençóis" e deixo que nos fumem aos dois.

Carta a um leigo

Caso não seja entregue ao destinatário,
é favor assinalar a razão com x

x Desconhecido
x Enderenço insuficiente (quantas vezes!)
x Ausente (por vezes...)
   Falecido
   Não reclamado
x Recusado (depressivo e desgatado!)
x Encerrado (ocasionalmente)
x Mudou-se (também)

Morada actual do destinatário:

____Terra do Nunca________
_________________________

terça-feira, 19 de março de 2013

Amo-te muito, Marta


 Vou enumerar-te: És delicada, és linda, és a melhor "ládosítio" no ballet, és inteligente, és minuciosa, és talvez um futura excelente fisioterapeuta, és corajosa, és lutadora, és-daquelas-que-se-chega-à-frente, és da moda, és da simpatia, és da amizade, és da inquebrável e boa amizade, és pequenina e jeitosinha, és um espírito grande, és o quase roçar da perfeição não fosse essa tua mania de quereres ser perfeita e não te consciencializares que não, não dá. A perfeição encerra a loja quando o candidato a proprietário é humano. Talvez se fosses uma flor...
  Se fosses uma flor serias um girassol porque és tão bonita no Verão com os decotes que te ficam tão bem e com os biquinis que viram os olhos a qualquer fufa de bom gosto. És tão bonita no Verão e gostas tanto dele...
Amo-te muito, Marta.
 E vejo-te a guardar todo esse sofrimento nos confins da cavidade que abriste para aconchegar as feridas abertas e abruptas que a vida fornece, assim, à desgarrada, como se fosse dona de ti.
     [A vida é dona de nós? Não creio, não. Se fosse, se por um segundo miserável ela fosse dona de ti, ter-se-ia arrependido de te causar as dores que te causou e causa - porque as feridas estarão sempre abertas -  e abriria a puta daqueles olhos e rogaria pragas a essa gentedemerda que para aí anda. Mas não. Ela é maioritariamente injusta. A vida não é dona de ti até se apoderar de ti, não voltes a deixar.]
E vejo-te a agarrares-me as mãos, isto já num plano do sentir, vertendo lágrimas mas sem largares esse sorriso:
                                              - Como estás, Inêsinha?
Amo-te tanto, Marta.
  Quando quiseres explodir, porque por este andar o dia-a-dia vai continuar uma merda...Diz qualquer coisa ou não digas. Apita só. Eu expludo contigo.
                                            Alguém que varra os restos.
                                            Bons restos, convinhamos.
                                            Dás qualidade à cena, Marta.
O que é a amizade senão uma deterioração conjunta?
O tempo também nada mais faz senão desgastar-nos.
                                             Então é isso.
É sermos restos conjuntamente. Mas restos de categoria porque o que desgasta também apura.
Váa, somos restos. Restos tipo exfoliantes de impurezas.
Ah!
Quero viver contigo para sempre, "bebecas".

[este tempo aconchega-nos, há-de fazer-se chuva ou...chover...que é praticamente a mesma coisa]

As horas.




Nunca vi um olhar tão vago
    Não era das condições adversas da iluminação.
                 Era mesmo o olhar
                 Vago
                     De horas que passam tão vagarosamente que não passam
                     Passam
                     Mas em passar que não passa
                     E que se atrasa
                     [Em passar]
                     Celeremente
                     Ininterruptamente
                       Perpetuando o que têm em si de passar e passando, não passam.
                    Arrastam-se
                       Sempre as mesmas horas a horas diferentes.
                                               
                                               Já são horas?

Nunca são horas de serem horas.
           São as horas das horas que são horas de horas passadas, presentes de não serem mais as horas de si mesmas
                                        E o tempo que é das horas?
                                        E as horas que são do tempo?
                                                sssssssssssssssssegundos!
                                        O tempo de ser tempo!
                                        O tempo de ser invariavelmente [fim]!
                                        O tempo enfermo e! o tempo efémero.
                                        O tempo das horas ansiosas de chegar a lado nenhum.
                                        O tempo de olhar as horas.
                                        O tempo de querer horas que não são as horas de se querer.
                                        São sempre horas que nunca são as horas de serem horas.
                                        De tempos a tempos, horas.
                                        A estupidez do tempo é que ele nunca envelhece.
                                        Passa.
                                        Apodrece[-nos]
                                       O tempo não tem tempo.
                                       Nós somos o tempo que o tempo tem
                                       A angústia da podridão
                                       Da finitude
                                       A lembrança da ânsia de querer chegar
                                       A lado nenhum....