domingo, 24 de novembro de 2013

Dos átomos

A cena do ontem é que hoje a bebedeira ontológica que me tomou, não reconhece as enlameadas e bolorentas palavras que escrevi nos preteridos pretéritos, antes de ser estrangeira de mim. Que o sou, a cada momento.
A estranheza e a indiferença com que leio aquilo que,outrora, escrevi ébria, leva-me a um ponto: És uma merda, carago.







segunda-feira, 1 de julho de 2013

Abstrusamente

Sinto-me

amorfa

obliterada

desintegrada

de(s)composta

obstruída

absorta

estatelada

fulminada

desarreigada

extirpada

ensandecida

estupidificada

obumbrada

estarrecida

supliciada


E sobretudo cansada, de tampouco me sentir e de isso sentir, sentindo-me de tal forma como se sentir sentisse ou se me sentisse sentir.
Vivo impaciente(mente), de viver.
Execrável é.
Sinto-me


[amo-te essa carne podre e que apodrece, abjecta]




sexta-feira, 7 de junho de 2013

Extrapolação

Deixei-a encaminhar-se para o abismo.
Incôngruo abismo a um respeitoso passo.
Esquivar-me-ei à tua penitência. Absurda.
Não era teu dever curvares-te perante a enaltecida determinação possessivo-corrosiva que te deu pernas para tas cortar.
Não era conveniência tua a conveniência deles. Deles maioritariamente a abstracção.
Puta é a sociedade que te pariu, por te parir dessa forma enformada.
Vais deambular nesse arrasto nocivo de te arrastares, por ser-de-bem-assim.
És sempre tão cliché que poderias ser cliché a não seres cliché.
Tu não és tu, és uma idealização.
E esse escárnio que te matou é tão néscio quanto tu. Talvez te possas perder na alienação, se a tiveres perdida em ti.
Mas terias de dizimar tudo aquilo que custosamente construíste ou tudo aquilo que te construíram. Em pré-formação.
Ou em proto-desígnio, se te servir o pleonasmo.
Estás dopada nessa dormência trémula do resíduo deambulante que tão pouco é teu quanto tu és de ti.
Mas deixei que te encaminhasses para o abismo.
Desse vício de seres conforme.

…E somente resquícios de pequenez…



- sinto-me muito revoltada com o Mundo, um dia adiro a qualquer moda-zinha e corto os pulsos só para não ter de os cortar outra vez. Elucidativas tentativas de suícidio [de escrita]. –


quinta-feira, 23 de maio de 2013

quinta-feira, 2 de maio de 2013

A um ponto do infinito

Ela disse que as reticências são estabelecidas e acordadas com três pontos.
Como o homem acasalar com a mulher.
Pró-criação.
[mas ela nem gosta de homens para que é que me está a falar de reticências?!]
Tudo isto é muito esquisito.
Ela disse-me que a regra eram os três pontos e não a reticência [sim, no singular].
Então a regra é acasalar?
Vamos esquecer isto, estamos a perturbar o sistema.
O sistema?
Acho que te deves preocupar [mais] com o perturbar.
Não, isso é só uma deformação congénita.
Não sei o que é tal coisa.
O quê? O sistema?
Nem eu!
As ideias também são deformações congénitas.
Já te disse que não sei o que é isso!!!
Para o sistema.
Mas qual? Quem?
Não sei, muito bem.
Esta trapalhada parece-me familiar, estás sempre aí.
Não é isso, é por seres tu.
Estas perdições não me agradam. Não percebo porque é que tens de optar por esses caminhos.
Quais caminhos?
Estes.
Mas disseste esses.
Disse. Pareces-me sempre muito longíqua.
Acho que não é assim que se formula.
As palavras não têm fórmula.
Não tens necessariamente de retirar uma da outra.
Mas as palavras têm fórmula, sim. Tu é que és desordenada.
Encontro-as mais facilmente assim. Às vezes.
Isto não faz sentido.
Para que o queres tu? Guardava-lo no bolso e comia-lo aos bocadinhos para não morreres à fome ou à perdição de que falavas?
Eu não falei de perdições. Foste tu.
Não fui não.
Vamos cair no cepticismo se assim for.
Por não discernirmos qual de nós tu[eu]?
Não. Por nos fiarmos em não fazer sentido nestas coisas.
Mas não faz.
Mas que fastidiosa teimosia.
Eu até a acho engraçada.
Ao quê?
Não sei, do que falavas?
Mas que aborrecimento!
Posso fazer-te uma pergunta?
Diz.
Acaso não encontre vestígios de memória perderei o sentido àquilo que existiu e àquilo que aconteceu?
Mas que raios? Como é que podes ser tão esquizofrénica numa conversa?
É dislexia, não se trata de um caso de esquizofrenia!
Não sei.
Como não sabes?
Da forma que tu não sabes, não sabendo. E não te sei explicar como é que é não sabendo.
Então não sabes duplamente.
Ao quadrado, se quiseres.
Não gosto desse palavreado que usas. É tecnicista.
Como é que podes ser tão contraditória?
Achas que é a minha memória?
O quê?
Que me está a deixar nesta condição.
Eu acho que é esse teu perderes-te assim.
Como numa descaracterização?
Talvez.
Só tens incertezas!
Não resmungues, tu também.
Isso embala-me em nenhures. Ebriamente em nenhures.
O teu problema é saberes-te assim. Não o soubesses e estarias sem estares petrificada aí.
Se me esquecer, não estarei. Mas não sei se irei esquecer. Gostava de esquecer. Momentaneamente.
Todos nós. Momentaneamente. Antes que o infinito invada a hipótese da impossibilidade de si próprio e nos faça mais loucos que imortais.

[não compreendo porque é que a formalidade interrompe as reticências com três pontos, corta-lhe o prolongamento do suspense , acho que é uma tremenda injustiça à incerteza, devia poder espreguiçar-se, quatro pontos podiam ser quatro pontos, sem esoterismos acompanhantes.]



- Natureza (Des)Humana -

A Natureza-Humana pretende criticar e expurgar o título de que lhe é mesmo:
                      Na procura da sua origem-original, do seu primeiro princípio constitutivo, o homem acaba por enveredar por um dos dois caminhos:
                      #1 ou não consegue genuinamente desaprender aquilo que aprendeu, está preso na sua
                       própria evolução, enferrujando e impossibilitando qualquer regresso a preceito.
                      Ou #2 acaba preso.




 - Quando a ruindade nos assola e já não é nossa. -

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Casa

Encerrava-me em ti como num quarto escuro.
Luminoso.
Na minúcia da espera de te esperar.
Não estou bem aqui.
Sem ti.
Encerrar-me-ia.
Bastar-me-ia.
Em ti.
Acomodar-me-ia no teu incómodo desconforto.
Ninguém mais sabe(-ria).
Bastar-me-ia.
O que te vai na cabeça.
Tão escrupulosamente inacessível.
Ninguém saberia.
O que vai dentro de nós.
É nosso.
Às vezes, não sei o que te diga.
É nosso.
Concomitantemente, silêncio.
Nada mais do que.
Silêncio.
É este lugar que criámos.
Permaneço.
No singular plural.
Nós.
Há muita coisa que te diga.
E não sei.
Amo-te.
Lugar-tempo.
Vergonhosamente, apodreceria no verbo.
E no advérbio de modo.
Este tipo de dependência crava-nos no definhamento.
Perder-me-ia na casa.
Trancar-me-ia na casa.
"Esse mundo não é real."
O mundo dos adultos não me interessa.
Espero-te, em casa, na única ridícula existência que sei ser.
Espero-te em casa, meu amor.
Sobe esse estore, está escuro aqui!


segunda-feira, 15 de abril de 2013

M de Amor

Amo-te desta forma:

Impredicavelmente e ¬impredicavelmente [adverbialmente].
Sem que um exclua o outro.


[A mesma tal lógica consegue ser tão absurdamente ilógica que funda uma racionalidade na irracionalidade de te amar.  Às vezes, este vocabulário pavoneia-se na sua autodidaxia. O mesmo tal de que se fala também.
Prende-nos o absurdo. Eternamente, meu amor. Parênteses.]

segunda-feira, 1 de abril de 2013

das coisas e das coisas que não são coisas

Inquieta-me o infrutífero esforço do ser em ser alguma coisa que jaz em não ser coisa alguma [que valha a pena].
Inquietam-me os tempos vivos e os tempos mortos e o tudo vazio de nada.
Inquieta-me o enchimento oco das coisas e o terrível idealismo dos filósofos.
Inquieta-me a indiferença aberrante do estar assim-assim que é ser assim, deste modo e não de outro.
Inquieta-me este entorpecimento de me agarrar mais aos lençóis que a esta nefasta existência.
E inquieta-me sobretudo este adormecimento que me lança a angústia no peito da bizarra insignificância humana prostrada numa qualquer lápide prostituta de desconhecimento e de intemporalidade [porque o tempo é dos vivos e não dos mortos].
Inquieta-me a acção.
Inquieta-me a insatisfação.
Inquieta-me a inércia e o desejo de inércia.
Inquieta-me a leviandade da entrada e a soturnidade da saída.
Inquieta-me esta tenebrosa condição de me inquietar e os seus melindrosos cansaços.
Inquieta-me a monstruosidade da pequenez que nos corrói e inquieta-me esta obsessão humana com a sua fragilidade, inquietam-me os seus templos de construções significantes a fim de corromper o corrompido com uma praga de sentido epíteto de uma tal imaculada banalidade .
Ah, a banalidade!
Todas as vezes, a banalidade.
E a raiz desta condição está, nesta quietude habitual do passar das horas e dos dias e dos tempos, na tormenta do Homem consciente da inesperada turbulência da morte.

[ao fim e ao cabo, foi o sedentarismo que nos deu a volta a cabeça, que nos escalfou no aborrecimento e que nos complexificou e agora, fodem-se!
Estes engenhos são mais engenhosos do que o engenho engenhou.
Há de destruir-se o mundo com pensamentos, como assim o construímos.]

segunda-feira, 25 de março de 2013

das memórias

"At the temple there is a poem called loss carved into the stone. It has three words, but the poet has scratched them out. You cannot read loss, only feel it. "

quarta-feira, 20 de março de 2013

Um cigarro...

És a droga e eu sou o tabaco.
Ajo do alto da minha passividade: Limpo-te o suor da testa quando dormimos juntos,
                                                        faço cravar as tuas [extraordinárias] mãos no meu
                                                        corpo e, mesmo assim, não me beijas.
 Pedi-te um beijinho e mandaste-me embora.
[Afinal] nunca cravaste nada, rompeste e rasgaste.
A decadência que nos - me - levou
desconcerta-me no escuro e
                   já não sou
Nada.
Mas se me deres um beijinho, enrolo-me em ti e aos teus "lençóis" e deixo que nos fumem aos dois.

Carta a um leigo

Caso não seja entregue ao destinatário,
é favor assinalar a razão com x

x Desconhecido
x Enderenço insuficiente (quantas vezes!)
x Ausente (por vezes...)
   Falecido
   Não reclamado
x Recusado (depressivo e desgatado!)
x Encerrado (ocasionalmente)
x Mudou-se (também)

Morada actual do destinatário:

____Terra do Nunca________
_________________________

terça-feira, 19 de março de 2013

Amo-te muito, Marta


 Vou enumerar-te: És delicada, és linda, és a melhor "ládosítio" no ballet, és inteligente, és minuciosa, és talvez um futura excelente fisioterapeuta, és corajosa, és lutadora, és-daquelas-que-se-chega-à-frente, és da moda, és da simpatia, és da amizade, és da inquebrável e boa amizade, és pequenina e jeitosinha, és um espírito grande, és o quase roçar da perfeição não fosse essa tua mania de quereres ser perfeita e não te consciencializares que não, não dá. A perfeição encerra a loja quando o candidato a proprietário é humano. Talvez se fosses uma flor...
  Se fosses uma flor serias um girassol porque és tão bonita no Verão com os decotes que te ficam tão bem e com os biquinis que viram os olhos a qualquer fufa de bom gosto. És tão bonita no Verão e gostas tanto dele...
Amo-te muito, Marta.
 E vejo-te a guardar todo esse sofrimento nos confins da cavidade que abriste para aconchegar as feridas abertas e abruptas que a vida fornece, assim, à desgarrada, como se fosse dona de ti.
     [A vida é dona de nós? Não creio, não. Se fosse, se por um segundo miserável ela fosse dona de ti, ter-se-ia arrependido de te causar as dores que te causou e causa - porque as feridas estarão sempre abertas -  e abriria a puta daqueles olhos e rogaria pragas a essa gentedemerda que para aí anda. Mas não. Ela é maioritariamente injusta. A vida não é dona de ti até se apoderar de ti, não voltes a deixar.]
E vejo-te a agarrares-me as mãos, isto já num plano do sentir, vertendo lágrimas mas sem largares esse sorriso:
                                              - Como estás, Inêsinha?
Amo-te tanto, Marta.
  Quando quiseres explodir, porque por este andar o dia-a-dia vai continuar uma merda...Diz qualquer coisa ou não digas. Apita só. Eu expludo contigo.
                                            Alguém que varra os restos.
                                            Bons restos, convinhamos.
                                            Dás qualidade à cena, Marta.
O que é a amizade senão uma deterioração conjunta?
O tempo também nada mais faz senão desgastar-nos.
                                             Então é isso.
É sermos restos conjuntamente. Mas restos de categoria porque o que desgasta também apura.
Váa, somos restos. Restos tipo exfoliantes de impurezas.
Ah!
Quero viver contigo para sempre, "bebecas".

[este tempo aconchega-nos, há-de fazer-se chuva ou...chover...que é praticamente a mesma coisa]

As horas.




Nunca vi um olhar tão vago
    Não era das condições adversas da iluminação.
                 Era mesmo o olhar
                 Vago
                     De horas que passam tão vagarosamente que não passam
                     Passam
                     Mas em passar que não passa
                     E que se atrasa
                     [Em passar]
                     Celeremente
                     Ininterruptamente
                       Perpetuando o que têm em si de passar e passando, não passam.
                    Arrastam-se
                       Sempre as mesmas horas a horas diferentes.
                                               
                                               Já são horas?

Nunca são horas de serem horas.
           São as horas das horas que são horas de horas passadas, presentes de não serem mais as horas de si mesmas
                                        E o tempo que é das horas?
                                        E as horas que são do tempo?
                                                sssssssssssssssssegundos!
                                        O tempo de ser tempo!
                                        O tempo de ser invariavelmente [fim]!
                                        O tempo enfermo e! o tempo efémero.
                                        O tempo das horas ansiosas de chegar a lado nenhum.
                                        O tempo de olhar as horas.
                                        O tempo de querer horas que não são as horas de se querer.
                                        São sempre horas que nunca são as horas de serem horas.
                                        De tempos a tempos, horas.
                                        A estupidez do tempo é que ele nunca envelhece.
                                        Passa.
                                        Apodrece[-nos]
                                       O tempo não tem tempo.
                                       Nós somos o tempo que o tempo tem
                                       A angústia da podridão
                                       Da finitude
                                       A lembrança da ânsia de querer chegar
                                       A lado nenhum....