segunda-feira, 1 de abril de 2013

das coisas e das coisas que não são coisas

Inquieta-me o infrutífero esforço do ser em ser alguma coisa que jaz em não ser coisa alguma [que valha a pena].
Inquietam-me os tempos vivos e os tempos mortos e o tudo vazio de nada.
Inquieta-me o enchimento oco das coisas e o terrível idealismo dos filósofos.
Inquieta-me a indiferença aberrante do estar assim-assim que é ser assim, deste modo e não de outro.
Inquieta-me este entorpecimento de me agarrar mais aos lençóis que a esta nefasta existência.
E inquieta-me sobretudo este adormecimento que me lança a angústia no peito da bizarra insignificância humana prostrada numa qualquer lápide prostituta de desconhecimento e de intemporalidade [porque o tempo é dos vivos e não dos mortos].
Inquieta-me a acção.
Inquieta-me a insatisfação.
Inquieta-me a inércia e o desejo de inércia.
Inquieta-me a leviandade da entrada e a soturnidade da saída.
Inquieta-me esta tenebrosa condição de me inquietar e os seus melindrosos cansaços.
Inquieta-me a monstruosidade da pequenez que nos corrói e inquieta-me esta obsessão humana com a sua fragilidade, inquietam-me os seus templos de construções significantes a fim de corromper o corrompido com uma praga de sentido epíteto de uma tal imaculada banalidade .
Ah, a banalidade!
Todas as vezes, a banalidade.
E a raiz desta condição está, nesta quietude habitual do passar das horas e dos dias e dos tempos, na tormenta do Homem consciente da inesperada turbulência da morte.

[ao fim e ao cabo, foi o sedentarismo que nos deu a volta a cabeça, que nos escalfou no aborrecimento e que nos complexificou e agora, fodem-se!
Estes engenhos são mais engenhosos do que o engenho engenhou.
Há de destruir-se o mundo com pensamentos, como assim o construímos.]

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