segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Não é só a alma que me dói

Doem-me os pretéritos perfeitos e imperfeitos que me obrigas a usar
Foste
Eras
Dói-me o peito, que já não podes esfregar
Dói-me a garganta, que já não podes curar
Dói-me o coração, que já não podes acalentar
Doem-me os oOlhos, que já não podes secar
Dói-me o corpo, que já não podes agarrar
Dóis-me tu
Dóis-me não-tu
Dizes-me: Aí, onde estás, é temeroso?
Ou não é, simplesmente?
Ardem-me os pés de cansaço.
Tanto. Mas tanto.
Se estiver à beira do precipício
Importa que o tempo tenha descolado
Da superfície
E, aí,
Aí, o exercício de estar vivo é realmente o mesmo que estar morto
Tudo quanto tenho para te dizer
Já não o posso fazer
E escrever
escrever
torna-se
na ilusão de uma cura que
Nunca vem

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Mãe

- Mãe, estou apaixonada.
- Então, filha?

Diz o sorriso que, a par do corpo enfermo , é da força da mulher que me esfregava o peito quando a dor parecia não caber mais.


[Amo-te como se o último trago de ti fosse realmente a canção das coisas simples que o tempo, indiferentemente, devora]