quarta-feira, 17 de abril de 2013

Casa

Encerrava-me em ti como num quarto escuro.
Luminoso.
Na minúcia da espera de te esperar.
Não estou bem aqui.
Sem ti.
Encerrar-me-ia.
Bastar-me-ia.
Em ti.
Acomodar-me-ia no teu incómodo desconforto.
Ninguém mais sabe(-ria).
Bastar-me-ia.
O que te vai na cabeça.
Tão escrupulosamente inacessível.
Ninguém saberia.
O que vai dentro de nós.
É nosso.
Às vezes, não sei o que te diga.
É nosso.
Concomitantemente, silêncio.
Nada mais do que.
Silêncio.
É este lugar que criámos.
Permaneço.
No singular plural.
Nós.
Há muita coisa que te diga.
E não sei.
Amo-te.
Lugar-tempo.
Vergonhosamente, apodreceria no verbo.
E no advérbio de modo.
Este tipo de dependência crava-nos no definhamento.
Perder-me-ia na casa.
Trancar-me-ia na casa.
"Esse mundo não é real."
O mundo dos adultos não me interessa.
Espero-te, em casa, na única ridícula existência que sei ser.
Espero-te em casa, meu amor.
Sobe esse estore, está escuro aqui!


segunda-feira, 15 de abril de 2013

M de Amor

Amo-te desta forma:

Impredicavelmente e ¬impredicavelmente [adverbialmente].
Sem que um exclua o outro.


[A mesma tal lógica consegue ser tão absurdamente ilógica que funda uma racionalidade na irracionalidade de te amar.  Às vezes, este vocabulário pavoneia-se na sua autodidaxia. O mesmo tal de que se fala também.
Prende-nos o absurdo. Eternamente, meu amor. Parênteses.]

segunda-feira, 1 de abril de 2013

das coisas e das coisas que não são coisas

Inquieta-me o infrutífero esforço do ser em ser alguma coisa que jaz em não ser coisa alguma [que valha a pena].
Inquietam-me os tempos vivos e os tempos mortos e o tudo vazio de nada.
Inquieta-me o enchimento oco das coisas e o terrível idealismo dos filósofos.
Inquieta-me a indiferença aberrante do estar assim-assim que é ser assim, deste modo e não de outro.
Inquieta-me este entorpecimento de me agarrar mais aos lençóis que a esta nefasta existência.
E inquieta-me sobretudo este adormecimento que me lança a angústia no peito da bizarra insignificância humana prostrada numa qualquer lápide prostituta de desconhecimento e de intemporalidade [porque o tempo é dos vivos e não dos mortos].
Inquieta-me a acção.
Inquieta-me a insatisfação.
Inquieta-me a inércia e o desejo de inércia.
Inquieta-me a leviandade da entrada e a soturnidade da saída.
Inquieta-me esta tenebrosa condição de me inquietar e os seus melindrosos cansaços.
Inquieta-me a monstruosidade da pequenez que nos corrói e inquieta-me esta obsessão humana com a sua fragilidade, inquietam-me os seus templos de construções significantes a fim de corromper o corrompido com uma praga de sentido epíteto de uma tal imaculada banalidade .
Ah, a banalidade!
Todas as vezes, a banalidade.
E a raiz desta condição está, nesta quietude habitual do passar das horas e dos dias e dos tempos, na tormenta do Homem consciente da inesperada turbulência da morte.

[ao fim e ao cabo, foi o sedentarismo que nos deu a volta a cabeça, que nos escalfou no aborrecimento e que nos complexificou e agora, fodem-se!
Estes engenhos são mais engenhosos do que o engenho engenhou.
Há de destruir-se o mundo com pensamentos, como assim o construímos.]