terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Meias-formas-de-estar

Mãe,
Mãe
Mããããããããããe
Mãããããããããããããe
Mãe
só me perco mais no escuro.
Explica-me.
Continuo sem perceber.
Como é que desapareceste?
Como é que, ainda ontem, disseste:
"Obrigada por teres vindo."
"Obrigada por teres insistido."
"Filha...obrigada."
Ontem?
Há quanto tempo foi ontem?
Quando é que o ar se tornou opaco aos poros?
Quando é que respirar gelou?
Quando e como é que dali para aqui?
Ilegítimo é este salto.
Do ser para o não ser.
Não se enganem os filósofos.
Não quero nada com o dever-ser.
Quero contigo, mãe.
Quero que possas estar aqui.
Não é que tenhas morrido.
É que tenhas sofrido.
Mãe.

Consigo sempre gritar-te mais na minha cabeça do que acho que consigo. Se quiseres que pare, tira-me desta irrealidade de não estares aqui. Deixa de não existires , nem que seja pelo amor de te desapossares a ti por mim. Vem.

Sem comentários:

Enviar um comentário